segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Tentei

Tentei
Tentei ser quem eu não era
Tentei não escutar mais aquelas músicas
Nem lembrar daquilo que elas me lembravam
Mas de nada adiantou
Alguém algum dia te faz sofrer
E isso acaba voltando
Mesmo debaixo daquele monte de cinzas
Em que sua vida se transformou
Existe uma pessoa que você sempre vai ser
E nada nem ninguém pode mudar
O fogo foi alto
Queimou tudo o que era vivo em mim
Restaram cinzas
E uma brasa para sempre ardendo
Que nada nem ninguém poderá apagar.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

...

O que acontece
quando se perde a essência
a razão de ser
a alegria de viver
e tudo à sua volta é sem graça
nada tem luz
tudo te agride.
Não quero rótulos
não quero consolo
não quero ombro amigo.
Não me mandem procurar ajuda
não me deem conselhos
muito menos digam que isso passa!
Criei a mim mesma
recriei
reinventei
e perdi a mim mesma.

domingo, 24 de outubro de 2010

Cansei

Cansei de viver mil vezes em apenas uma vida,
lutar por causas perdidas e sempre sair sem medalha,
cansei de estar antes do ontem e depois do amanhã,
desconhecendo a palavra recompensa apesar dos meus atos.
Cansei de caminhar na dúvida, não tenho mais certezas,
corro atrás das nuvens num dia de sol
e alcanço o sol num dia de chuva.
Chega de chorar e sorrir com tristeza,
cancelar sonhos em prol de terceiros,
acreditar em coisas que ninguém mais acredita,
esperar quando ninguém mais espera.
Chega de identificar um sorriso triste
e uma lágrima falsa
cair no fundo do poço e não ter ajuda,
me enganar e sempre me dar mais uma chance.
Cansei de estar em mil lugares de uma só vez,
fazer mil papéis ao mesmo tempo,
ser forte e fingir ser frágil pra ter um carinho...
Cansei de me perder em palavras
e depois perceber que me encontrei nelas,
distribuir emoções que nem sempre são entendidas.
Cansei de comprar, emprestar, alugar, vender sentimentos,
mas jamais dever,
construir castelos na areia,
vê-los desmoronados pelas águas e ainda assim amá-los.
Chega de saber dar o perdão,
e tentar recuperar o irrecuperável,
entender o que ninguém mais conseguiu desvendar.
Chega de estender a mão a quem ainda não pediu,
e doar o que ainda não foi solicitado...
Tenho vergonha de chorar por amor,
não sei a hora certa do fim,
espero sempre por um recomeço...
Não tenho mais a arrogância
de viver apesar dos dissabores,
das desilusões, das traições
e das decepções.
Sou mãe da minha filha e não
dos filhos dos outros.
Não tenho total confiança no amanhã
nem aceitação pelo ontem,
Desbravo caminhos difíceis
em instantes inoportunos
sem fincar a bandeira da conquista.
Volto no tempo todos os dias
e vivo por poucos instantes
coisas que nunca ficaram esquecidas.
Não tento mais encontrar
uma flor no deserto,
água na seca e labaredas no mar.
Cansei de chorar calada
as dores do mundo
e em apenas um segundo já estar sorrindo.
Subo degraus
e se tiver que descê-los
não preciso de ajuda,
tropeço, caio e volto a andar.
Chega de ser super-homem
quando o sol nasce
e virar Cinderela
quando a noite chega.
Cansei!
Cansei de ser acima de tudo
um estado de espírito,
ter dentro de mim
um tesouro escondido
e não poder dividi-lo com o mundo!!!
(Escrevi isso baseada em uma daquelas "lindíssimas" e inúteis mensagens de auto ajuda que lotam minha caixa de emails. Bastou inverter os sentido das frases...)

sábado, 16 de outubro de 2010

Couro cru

Couro Cru
Leopoldo Rassier
Couro cru, carnal a mostra,
Não sou feito pra quem gosta
De várzeas sem tacurus.
Outro curtido não tive
Que a chuva caindo livre
No canal de couro cru.
Batido a sol e sereno,
Sou pequeno entre os pequenos,
Igual entre os meus iguais.
Um lombo-duro entre os fortes
E embora vergue ou me entorte
Ninguém me põe nos varais.
Me apontam o dedo
Me chamam bagual,
Matambre dos duros,
Sem cinza e sem sal.
Sem furo na guampa,
Sem marca ou sinal,
O dedo me apontam,
Me chamam bagual!
Couro cru, carnal a mostra,
Não sou feito pra quem gosta,
De várzea sem tacurus.
Aos que me apontam o dedo
Falta cerne ou sobra medo
Pra sovar um couro cru...
Pra sovar...
Um couro cru!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Poema meu

Preciso de depilação
E de manicure
Preciso de uma nova paixão
Um amor que não dure

Quero a noite escura
E a solidão da mente
Eterna a minha procura
Pela alma ardente

Perco o sentido
Tudo é dolorido
E me faz cansar

Começo e termino
Assim meu desatino
Ofereço meu olhar

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Capítulo 5

Marcelo apareceu na noite seguinte, e na outra também. Mas Clara não parecia disposta a conversar muito. Sentia como se estivesse se abrindo e não queria. Desconfiada, sempre fora. Ficava escutando as conversas dele com Maria e Daniel, às vezes riam bastante, às vezes ficavam lembrando de pessoas que conheciam.

Sempre fora meio anti-social. Não se interessava pela vida de pessoas que nem conhecia. Fofocas, então, sempre era a última a saber e, mesmo assim, muitas vezes nem sabia de quem se tratava. Aquilo a irritava um pouco. Várias coisas a incomodavam.

Até que, em poucos dias, Marcelo apareceu de manhã. Ela ouviu a conversa alta na cozinha, que também era sala ao mesmo tempo. Não gostou de ser acordada tão cedo, afinal queria descansar, era para isso que estava ali. Só para isso?

Bateram na porta de seu quarto.

- Entra! - ela falou, desanimada.

Era Marcelo. Como ele se atrevia bater assim à sua porta?

- O que foi?

- Levante daí e vamos sair...

E saiu. Ela sentia agora o adorável cheiro de café recém passado. Vestiu um jeans velho, um blusão de lã bem grosso que adorava e que lhe caía muito bem, uma touca e umas botas estilo cowboy. Escovou os longos cabelos loiros e chegou à sala. Não havia ninguém. Estavam lá fora, com suas xícaras de café, sentados ao sol.

Marcelo estendeu uma para ela e sorriu, olhando-a nos olhos de um jeito que a fez sorrir também.

- Tome somente o café. Vamos comer na cidade. Você vai gostar. A melhor confeitaria daqui!

Ela tomou o café e entrou no Jeep com ele. Ele lhe ofereceu um cigarro, ela aceitou. Sempre tinha adorado fumar andando de carro - embora não tivesse o vício de fumar, apenas um hábito que lhe dava prazer. Ele ligou o som e uma música antiga tocava. Vieram recordações à cabeça de Clara. Mas não recordações de coisas que aconteceram, e sim de coisas que ela costumava sentir há muito tempo atrás.

No quarto

Gosto de dormir no quarto de minha filha, de vez em quando. Porque adoro dormir sozinha. E adoro dormir sozinha num quarto pequeno, fofo. E acho que adoro dormir aqui porque me sinto com 12 anos de novo.

Por motivos que aqui não interessam, até essa idade, eu dormia no quarto da minha mãe. Tive, quando menor, um quarto junto com meu irmão, também. Mas sempre quis ter o MEU quarto. Quando consegui, foi um dos melhores dias da minha vida. Um daqueles dias que a gente grava na memória.

O quarto era pequeno como esse aqui, mas nem de longe tão arrumadinho e cheio de brinquedos. Com 12 anos eu já não brincava mais também. O quarto tinha a minha cama de solteira, o guarda-roupas que tinha sido de meu pai quando ele ainda era casado com minha mãe, e um tapete.

Tinha também uma pequena caixa de madeira, com chave, que eu fazia de mesinha de cabeceira. Guardava ali meus pequenos tesouros: meus poucos livros, aqueles caderninhos que a gente fazia questionário ou  que dava para os amigos assinarem com alguma dedicatória, e algumas bijouterias.

Em cima dessa caixa havia um tesouro maior ainda, que não sei aonde foi parar. Era um relógio daqueles de corda, que faziam tique-taque, e despertava com o barulho de uma caixinha de música. Muito antigo. Verde clarinho. Com a foto de minha mãe e meu pai abraçados, ainda namorados.

O tal relógio não funcionava. Eu, fuçadeira igual a meu pai, desmontei o relógio e mexi até arrumá-lo. Que maravilha era acordar nas manhãs frias para ir para o colégio com aquela musiquinha tão delicada.

E aqui, agora, no quartinho da minha filha, me sinto com 12 anos de novo. Eu já escrevia. Em cadernos velhos, em folhas soltas. Está tudo guardado. Talvez qualquer dia eu abra meus guardados. Quem sabe para tentar descobrir aonde foi parar aquela menina tão cheia de sonhos...

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Poço

Dizem que se a gente chegar ao fundo do poço, dali só podemos subir. E que se dermos alguns passos para trás, só se for para pegar impulso e ir para a frente. Pois bem. Acho que estou lá no fundo. Parei de cair. Parei de olhar para o chão. Olhei para cima, e lá vi uma luzinha... miragem?

A luz que eu vejo me seduz. Por vezes, passa uma nuvem, às vezes branquinha, às vezes cinzenta e carregada. Nesse poço ainda me sinto protegida. De mim mesma. Porque realmente faço coisas que me dão medo. Não me entendo, também, por vezes. Mas já paguei a conta do analista "pra nunca mais ter que saber quem eu sou".

Na verdade, algumas coisas sei sobre mim, porque se repetem. Não há como não ver. Também se eu digo que sou assim, acabo sendo assim. Mas gosto de minha companhia, na maioria das vezes. Me divirto estando só, com meus pensamentos, sonhos, loucuras, e gosto de ser diferente.

A única coisa que realmente me incomoda é o lugar em que vivo, onde as pessoas me veem como louca. Lugares maiores: lá, a gente pode andar como quiser e tudo é normal. Se você senta no meio-fio, ninguém fica te olhando. Ninguém analisa sua roupa, nem se você caminha cantando pela rua. Nem te julgam pela tua idade, se você tem um comportamento adequado  para a sua idade. E isso até os mais jovens fazem em cidades de mentalidade pequena como a minha.

Aqui é o poço. E dele, estou começando a sair. Me aguardem. A vida me aguarda.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Capítulo 4

Clara agora cavalgava todos os dias por mais de hora. Às vezes parava e deitava na relva, sentindo o sol de inverno queimar seu rosto. Chorava, então. Muito. Não sabia bem por quê. Mas se sentia esvaziada quando chorava. Maria e Daniel notavam seus olhos inchados mas nada falavam. Deixavam-na assim, quieta, bebendo seu cálice de vinho em frente à lareira antes do jantar.
Uma noite, chegou uma visita. Era um homem um pouco mais novo do que ela, sobrinho de Maria. Levou um violão e, depois do jantar, saiu para a varanda e começou a dedilhar uma canção.
Era uma noite quente, em pleno inverno, anunciando que vinha chuva. Ficaram ali, sentados, ouvindo o violão até tarde. Então o casal se recolheu. Quando Clara se deu por conta, estava a sós com o estranho e se sentiu bem. Ele a olhava de vez em quando, enquanto cantava. Ela sorria.
De repente, começou a tocar uma música que Clara conhecia, e ela, sem querer, começou a cantar. O estranho, que se chamava Marcelo, ia cantar junto, mas preferiu calar-se e deixá-la cantar sozinha. A princípio timidamente, depois com mais paixão, Clara cantou várias músicas. Até que, ao fim de uma delas, baixou os olhos e teve aquela mesma sensação de vazio que sentia quando chorava.
O silêncio durou um tempo, então Marcelo foi embora em um Jeep barulhento.
Ela sabia que em breve as coisas teriam que mudar. Suas "férias" não durariam para sempre. Teria que ter muita coragem.

Ansiedade

Bipolar.
Quem esse médico pensa que é para me dar um rótulo? Em apenas 20 ou 30 minutos de conversa... Mais eficiente do que muito radiologista, para enxergar a gente assim, por dentro...
Continuo triste. Continuo ansiosa.
Não estou nos meus melhores dias. É quando você sabe que é perfeitamente dispensável para a maioria das pessoas. É quando você não consegue ser especial mesmo para as pessoas para quem significa algo. É quando, depois de tantos anos, você parece ter caído em um vácuo, e a sua vida não tem mais sentido nenhum, e você não tem forças para levantar, nem vontade.
Sigo fingindo. Tento um pouco todos os dias. Mas devo aprender a contar até 100, porque até 10 já não adianta mais.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

De volta para casa

Tem dias em que me sinto assim, de volta para casa. Calma, segura, sem pressa... Fico então prometendo que não vou mais me deixar atingir tanto por certas coisas. Que não vou sair do sério. Que não vou falar demais; esse, sim, sempre foi o meu maior problema: achar que as pessoas entenderiam a minha verborragia.
Mas as pessoas não compreendem os outros porque não estão tão dispostas a olhar de verdade para os outros. Ouvem e depois vão repetindo o que ouviram à sua tosca maneira. Um belo dia você descobre que "fez" ou "disse" coisas que nunca lhe passaram pela cabeça. Distorcem o que você falou numa ânsia de destruir alguém.
Hoje uma pessoa muito chegada descobriu que está com câncer. Mais uma vez olhei à minha volta e senti que esse ano parece que o mundo vai desabar à minha volta. Tanta coisa ruim acontecendo, gente boa sofrendo, gente ruim se dando bem sempre... Eu mesma fiz coisas que magoaram muito pessoas que me são caras, porém tento ultrapassar a culpa e adquiro uma enorme carapaça que carrego e que está me destruindo.
E tenho essa característica... somatizo tudo o que me acontece na cabeça. Preocupação demais me gerou problemas na coluna cervical, ou seja, o fluxo de energia para o cérebro ficou trancado ali. Carga emocional para "carregar" nas costas resultou em problemas na coluna lombar, denunciando que estou tentando carregar mais peso do que posso.
Estou tentando me livrar desse peso em minha vida. Torná-la mais leve. Me tornar mais leve para os outros, porque sei que sou muito pesada. Mas também gostaria às vezes de simplesmente ser invisível, sumir...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Capítulo 3

Ela entrou na casa, tão familiar para ela. Ao mesmo tempo, era estranho estar ali, naquele momento. O casal, Maria e Daniel, começou a tirar umas coisas do carro, mas ela ficou ali, paralisada, maravilhada com tudo... como poderia tudo estar no mesmo lugar depois de tanto tempo?
De repente ouviu um grito vindo lá de fora:
- Clara!
Era ela, Clara! Seu nome parecia ter saído de um túnel do tempo, se é que existe um túnel do tempo.
- Sim? - respondeu. - Ah! Deixem eu ajudá-los!
- Não! Apenas queremos que solte os cavalos lá atrás!
- Eu? Soltar os cavalos?
- Sim, você sempre adorou eles...
Estranho... Mas fez o que eles mandaram. Quando chegou lá e sentiu o cheiro dos animais, lembrou de seus cabelos voando enquanto cavalgava, de vestido e pés descalços. O arrepio que sentia ao entardecer, quando começava a esfriar, e também do frio na barriga que sentia quando o cavalo apertava o passo.
O que mais adorava era quando cansava, descia da sela e caminhava no pasto, o contato úmido com seus pés, a solidão e a paz indescritível que tomavam conta dela. As sensações que percorriam seu corpo depois de cavalgar... Havia um pequeno riacho onde sentava e observava umas pequenas borboletas amarelas que se reuniam ali às vezes.
De repente, sentiu um cheiro maravilhoso, que a fez ir para dentro da casa. Maria havia passado café. E Daniel estava colocando sobre a mesa aqueles biscoitos de polvilho que ela amava, uma geléia de morango e um queijo branco. Olhou para ela e disse:
- Sente-se. Você precisa descansar. Agora vai ver que tudo vai ficar bem.
Ela baixou o olhar para a mesa, alisou com a mão a toalha de linho meio amarelada, e sentiu um misto de alívio e tristeza. Sentiu saudades da filha.

O túnel

Volto o olhar para dentro de mim e não consigo enxergar a verdade... tudo o que vejo é uma pessoa infeliz, insatisfeita, arrependida de suas escolhas e sem coragem de seguir em frente.
Até que ponto o que sinto é uma doença? Ou é realmente infelicidade, insatisfação com a vida? Onde está o limiar da loucura? Onde está o ponto de onde não podemos mais voltar atrás? Ou de onde não podemos continuar mais?
A cada dia percebo um pouquinho sobre esse mal estar. Quando estou fraca, tudo me atinge, um simples bom dia que eu sei que é falso me derruba, uma pessoa demonstrando má vontade e... é como se um tiro me atingisse.
Saio de casa com um frio na barriga, aos poucos me encaixo no andar da carruagem, mas ao final do dia tenho a sensação de que vou explodir.
Então, esse fim de semana resolvi pensar em uma coisa de cada vez. Saí para caminhar muito, olhar vitrines, comprar umas coisinhas. No outro dia, fiz exercícios, o que me dá muito prazer.
Tenho que redescobrir o prazer em minha vida de qualquer forma! Uma pessoa que me atende bem em uma loja já me faz acreditar de novo no ser humano, que tantas decepções tem me proporcionado. Uma frase bem escrita me dá prazer, um comentário no blog me instiga a escrever mais...
Parece que estou caminhando "no vale das sombras". Um momento negro de minha vida. Mas tenho que passar por isso, é como um túnel que me levará a um mundo cheio de sol do outro lado. O tamanho desse túnel sou eu que vou determinar.

domingo, 30 de maio de 2010

Fragmentos

Essa história que estou tentando escrever na verdade é composta por fragmentos de um sonho que tive e um pouco das coisas que gostaria que acontecessem. Atualmente o que me faria mais feliz é me ausentar da realidade um tempo, fugir de todos e talvez de mim mesma. Sinto-me sufocada com coisas que não entendo, triste com minha vida e também tentando entender o que é.
"Parece cocaína
Mas é só tristeza
Talvez tua cidade
Muitos temores nascem
Do cansaço e da solidão
Descompasso, desperdício
Herdeiros são agora
Da virtude que perdemos...
Há tempos tive um sonho
Não me lembro, não me lembro...
Tua tristeza é tão exata
E hoje o dia é tão bonito
Já estamos acostumados
A não termos mais nem isso...
Os sonhos vêm e os sonhos vão
E o resto é imperfeito...
Dissestes que se tua voz
Tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira...
E há tempos
Nem os santos têm ao certo
A medida da maldade
E há tempos são os jovens
Que adoecem
E há tempos
O encanto está ausente
E há ferrugem nos sorrisos
Só o acaso estende os braços
A quem procura
Abrigo e proteção...
Meu amor!
Disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem (Ela disse)
Lá em casa tem um poço
Mas a água é muito limpa..."
(Há Tempos -
Legião Urbana -
Composição: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá)

sábado, 29 de maio de 2010

Capítulo 2

Começou então a acordar daquela espécie de torpor em que se encontrava, e o carro estava dando problemas. O casal de velhos parecia não se importar muito com esse fato, e ela começou a ficar ansiosa.
Haviam saído da estrada principal, que era de asfalto e ia dar em um grande cidade, que ela avistou ao longe. Agora, andavam por uma estrada de terra, cercada de plantações e campos. Ela começou a falar com eles e disse:
- Vamos parar ali naquele posto, tem um telefone, eu posso mandar vir um carro nos buscar, senão acabaremos parados no meio da estrada!
O casal ria, pareciam ser pessoas simples e felizes. O homem respondeu:
- Não se importe com esse velho carro! Sempre acaba nos levando aonde queremos!
A mulher se chamava Maria e usava um xale de lã branco parecido com um que sua avó tinha. Lembrou da avó enrolada naquele xale assistindo às novelas da televisão. E pensou em como as coisas podiam ser tão simples, às vezes. Para espantar o frio, xale de lã. Para passar o tempo, televisão. E o dia acabava, e sua avó ia dormir, simples assim.
Estava anoitecendo e, estranhamente, parecia normal ela estar ali com dois estranhos tão amáveis. Na verdade, não pareciam estranhos, pareciam já conhecê-la. Estavam levando-a para sua fazenda. Ela sabia. Tinha uma casa simples lá, bem aconchegante, com um fogão a lenha na sala - que era cozinha e sala ao mesmo tempo.
Como é que ela já conhecia essa fazenda? Isso ela não sabia dizer.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Capítulo 1

Ela acordou e não entendia aonde estava. O homem, de idade já meio avançada, olhava para ela de perto. Aos poucos foi-se dando conta de que estava em um espécie de hospital ou clínica. Não lembrava de como tinha ido parar ali. Mas lembrava de que tinha um marido e uma filha em outro país. E de alguma forma sabia que não precisavam dela por lá.
Outro flash de memória lhe passou pela cabeça e ela viu-se mais velha, e ansiou por um espelho. Queria saber se realmente o tempo havia passado. Não era ela. Era a mulher do homem que estava ao seu lado. E ele queria tirá-la dali.
Dormiu de novo. Era um sono interrompido; cada vez que acordava, sua cabeça era de um vazio total. Aos poucos, se lembrava de alguma coisa. E dormia de novo. Sonhou que andava nos corredores do hospital - ou clínica - em uma maca, às pressas. Viu uma estrada empoeirada onde andavam ela, o homem e sua mulher em um velho carro.
Pensou que poderia ajudá-los de alguma forma. Afinal, ela tinha dinheiro em outro país. E eles pareciam necessitar de muita coisa.

Dentro de casa

Resolvi criar outro blog para falar de coisas que passam dentro da minha cabeça de madrugada, histórias que imagino, coisas que sonho, ideias lá do fundo da alma, desvarios, e tudo que me der vontade.
Quando criei o blog Mulher de 40, comecei falando de mim e do que gosto, e, conforme o blog foi crescendo e ganhando visibilidade, passei a me importar mais e mais com a qualidade dos posts, em agradar os leitores, e a vaidade me ajudou a querer "aparecer" mais e mais.
Assim, certas coisas mais obscuras me parecem ser desagradáveis para as pessoas, e não falo. Mas em mim há uma necessidade cada vez maior de escrever e escrever. Às vezes acordo de madrugada com sonhos completamente malucos, e tento fixá-los na memória para contar depois... mas eles se vão...
Hoje consegui gravar um sonho... não me importei em perder o sono e em ficar pensando no que havia sonhado e em como poderia transformar tudo aquilo em palavras. Infelizmente apenas quando estou assim, acho que dizem "em alfa", as ideias correm livremente pela minha cabeça, e eu gostaria de ter um pen drive plugado no cérebro para gravar tudo o que voa em minha mente.
Aqui, não quero me preocupar em ser popular, embora não ache que isso seja uma coisa ruim, é uma característica bem humana, enfim. Quero abrir as asas e voar com minha mente, minhas loucuras, meus devaneios. Quero procurar o meu lado mais obscuro. Quero entrar para dentro da minha casa!