sábado, 16 de outubro de 2010

Couro cru

Couro Cru
Leopoldo Rassier
Couro cru, carnal a mostra,
Não sou feito pra quem gosta
De várzeas sem tacurus.
Outro curtido não tive
Que a chuva caindo livre
No canal de couro cru.
Batido a sol e sereno,
Sou pequeno entre os pequenos,
Igual entre os meus iguais.
Um lombo-duro entre os fortes
E embora vergue ou me entorte
Ninguém me põe nos varais.
Me apontam o dedo
Me chamam bagual,
Matambre dos duros,
Sem cinza e sem sal.
Sem furo na guampa,
Sem marca ou sinal,
O dedo me apontam,
Me chamam bagual!
Couro cru, carnal a mostra,
Não sou feito pra quem gosta,
De várzea sem tacurus.
Aos que me apontam o dedo
Falta cerne ou sobra medo
Pra sovar um couro cru...
Pra sovar...
Um couro cru!

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