Ela entrou na casa, tão familiar para ela. Ao mesmo tempo, era estranho estar ali, naquele momento. O casal, Maria e Daniel, começou a tirar umas coisas do carro, mas ela ficou ali, paralisada, maravilhada com tudo... como poderia tudo estar no mesmo lugar depois de tanto tempo?
De repente ouviu um grito vindo lá de fora:
- Clara!
Era ela, Clara! Seu nome parecia ter saído de um túnel do tempo, se é que existe um túnel do tempo.
- Sim? - respondeu. - Ah! Deixem eu ajudá-los!
- Não! Apenas queremos que solte os cavalos lá atrás!
- Eu? Soltar os cavalos?
- Sim, você sempre adorou eles...
Estranho... Mas fez o que eles mandaram. Quando chegou lá e sentiu o cheiro dos animais, lembrou de seus cabelos voando enquanto cavalgava, de vestido e pés descalços. O arrepio que sentia ao entardecer, quando começava a esfriar, e também do frio na barriga que sentia quando o cavalo apertava o passo.
O que mais adorava era quando cansava, descia da sela e caminhava no pasto, o contato úmido com seus pés, a solidão e a paz indescritível que tomavam conta dela. As sensações que percorriam seu corpo depois de cavalgar... Havia um pequeno riacho onde sentava e observava umas pequenas borboletas amarelas que se reuniam ali às vezes.
De repente, sentiu um cheiro maravilhoso, que a fez ir para dentro da casa. Maria havia passado café. E Daniel estava colocando sobre a mesa aqueles biscoitos de polvilho que ela amava, uma geléia de morango e um queijo branco. Olhou para ela e disse:
- Sente-se. Você precisa descansar. Agora vai ver que tudo vai ficar bem.
Ela baixou o olhar para a mesa, alisou com a mão a toalha de linho meio amarelada, e sentiu um misto de alívio e tristeza. Sentiu saudades da filha.
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