Clara agora cavalgava todos os dias por mais de hora. Às vezes parava e deitava na relva, sentindo o sol de inverno queimar seu rosto. Chorava, então. Muito. Não sabia bem por quê. Mas se sentia esvaziada quando chorava. Maria e Daniel notavam seus olhos inchados mas nada falavam. Deixavam-na assim, quieta, bebendo seu cálice de vinho em frente à lareira antes do jantar.
Uma noite, chegou uma visita. Era um homem um pouco mais novo do que ela, sobrinho de Maria. Levou um violão e, depois do jantar, saiu para a varanda e começou a dedilhar uma canção.
Era uma noite quente, em pleno inverno, anunciando que vinha chuva. Ficaram ali, sentados, ouvindo o violão até tarde. Então o casal se recolheu. Quando Clara se deu por conta, estava a sós com o estranho e se sentiu bem. Ele a olhava de vez em quando, enquanto cantava. Ela sorria.
De repente, começou a tocar uma música que Clara conhecia, e ela, sem querer, começou a cantar. O estranho, que se chamava Marcelo, ia cantar junto, mas preferiu calar-se e deixá-la cantar sozinha. A princípio timidamente, depois com mais paixão, Clara cantou várias músicas. Até que, ao fim de uma delas, baixou os olhos e teve aquela mesma sensação de vazio que sentia quando chorava.
O silêncio durou um tempo, então Marcelo foi embora em um Jeep barulhento.
Ela sabia que em breve as coisas teriam que mudar. Suas "férias" não durariam para sempre. Teria que ter muita coragem.